Não falta Animação!
Disney, Pixar e DreamWorks são gigantes empresas norte-americanas que fizeram sucesso ao longo dos tempos pela magia de suas animações. As histórias marcantes e os personagens carismáticos cativam crianças e adultos de todo o mundo e servem para estimular a paixão pela arte dos desenhos animados. A nova geração de filmes aposta nas possibilidades da computação gráfica para dar vida digital a brinquedos que ganham vida longe do olhar dos humanos, ogros, insetos aventureiros, pandas gorduchos capazes de lutar kung-fu e supervilões sentimentais.
Mas não imagine que seja simples criar cenários surpreendentes e protagonistas bacanas. Do conceito da história para o produto finalizado é necessário um demorado processo. “Às vezes você curte videogame, gosta muito de desenhos animados e lê quadrinhos, mas não sabe desenhar e já desiste. Há um monte de departamentos em que é possível atuar e o desenho é apenas um desses setores”, explica o ilustrador e animador Ivan Querino, professor de uma escola de artes, em Santo André. “Para a parte técnica dos projetos, não é preciso entender nada de arte. A pessoa pode ter talento, só não sabe qual e onde poderia aplicar esse conhecimento.”
O requisito básico para dar o primeiro passo no ramo é ser apaixonado por animação. Após isso, é necessário saber para que lado seguir. Há espaço para bons contadores de história, desenhistas de mão cheia, geeks da computação e pacientes técnicos de ‘rigging’ (responsável por colocar ossos e articulações nos personagens).
COMPUTADOR COMO FERRAMENTA
Diretor, roteirista, storyboarder, ilustrador, animador, diretor de arte, modelador e arte finalista, entre tantos outros profissionais da área, escrevem roteiros, desenvolvem personalidades e cuidam de cada detalhes da criação dos personagens em 3D no computador. E tudo isso em equipe.
Apesar da ajuda da tecnologia, o processo ainda depende da criatividade humana. Softwares específicos fazem com que se ganhe tempo. Para se ter uma ideia, Alê Camargo, de Santo André, levou cerca de dez meses para fazer o curta-metragem ‘Os Anjos do Meio da Praça’, de 2010. Querino recorda que teve de trabalhar durante quatro dias de maneira frenética para mandar cena de apenas sete segundos de um desenho para o canal Cartoon Network do Canadá.
“É uma coisa meio assustadora o tempo que gastamos para cada segundo de filme. Quando falamos de animação de computador aqui no Brasil, muita gente entende que é algo automático”, diz Camargo. “O computador é só uma ferramenta, que diminui as partes chatas. O trabalho fica para o artista e por isso temos diversos tipos de resultados.” Os filmes típicos da Disney e a personalidade da escola francesa vista em obras como ‘O Mágico’ e ‘Ah! Amor…’, exemplificam essas diferenças. Porém, a produção em massa e os prazos apertados podem comprometer a parte artística.
Um dos segredos para o sucesso de uma animação é criar empatia com o público. O importante é entreter o espectador de forma que, mesmo sabendo que aquilo que está vendo não é de verdade, ele consiga se emocionar com os dramas e alegrias dos personagens. Segundo Querino, “a função da animação é fazer algo que não existe se tornar crível por certo tempo. Se você conseguir esse resultado, o trabalho está benfeito”.
Pluralidade do mercado chama a atenção
O mercado de trabalho para a animação não para de crescer. Entre produções para o cinema, programas para a televisão, campanhas publicitárias e títulos de videogames, quem deseja seguir por esse caminho irá encontrar campo com muita demanda.
No intuito de baratear seus gastos, agências e produtoras agora se voltam para esse tipo de trabalho. “Hoje, a maioria dos comerciais conta com esse recurso e quase todas as aberturas de novelas da Globo são feitas em animação. Fora que você consegue fazer tudo da sua casa, basta ter um computador que aguente”, diz o animador andreense Ivan Querino.
Como os profissionais brasileiros não contam com muita especialização, sua capacidade de atuar em diferentes áreas e setores é visto com bons olhos pelos estúdios estrangeiros. “O pessoal está gostando dos animadores brasileiros, justamente por serem aqueles caras que são polivalentes. Quando você faz um trabalho para fora, ele roda e seu nome vai ser lembrado uma hora ou outra”, afirma o ilustrador, que já foi chamado para projetos de países como Estados Unidos, Holanda e da Estônia. Empresas como Pixar (cinema) e Blizzard (games) costumam ter brasileiros em suas equipes de produção.
A distância entre cliente e contratado acabou sendo vencida muito graças à internet. A rede mundial também serve como meio para apresentar trabalhos. O boca a boca, ou melhor, o compartilhamento, é essencial. “Animação não é feita para você, mas para o público. Não faz mais sentido você não jogar seus projetos na internet. As pessoas têm de ver do que você é capaz”, ressalta o animador Alê Camargo. Seus curtas-metragens completos, casos de ‘A Noite do Vampiro’ (2006) e ‘Knossos’ (2009), estão disponíveis no YouTube.
O antes secundário setor de cinema de animação também tende a expandir. “Estamos crescendo muito e a tendência é aumentar. Vejo com olhos bem otimistas esse momento e acho que o cinema de animação está entrando em uma fase dourada”, analisa Camargo, que prepara seu primeiro curta musical e infantil.
Fonte: DGABC