Os parques tecnológicos do Brasil não querem mais ser conhecidos apenas como locais de inovação na área de tecnologia da informação (TI). Complexos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pernambuco investem mais de R$ 12 milhões para receber empresas da área de economia criativa, de setores como design, moda, cinema e animação. Um longa de animação infantil é um dos produtos desse novo ciclo.
Segundo levantamento do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-Nacional), divulgado durante o XXI Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, realizado na semana passada, em Porto Alegre (RS), 15,7% das 223 incubadoras existentes no país atuam com design e na área cultural.
No Sapiens Parque, arranjo produtivo de tecnologia localizado em Florianópolis (SC), cinco empresas pertencem à economia criativa. Os investimentos no setor começaram em 2009 e a meta é que as companhias alcancem R$ 10 milhões de faturamento neste ano. Um terço do terreno do parque – ou 2,5 mil m2 – será dedicado ao segmento. “O objetivo é abrigar 50 novas empresas do setor, em quatro anos”, afirma José Eduardo Fiates, diretor-superintendente do complexo.
Situado no norte da Ilha de Santa Catarina, o parque mantém ainda uma rede de informações com outras 35 organizações ligadas à economia criativa, na Grande Florianópolis. São equipes que trabalham com games, entretenimento e sistemas interativos.
Entre as 500 empresas da área de TI na capital catarinense, pelo menos 150 são voltadas para projetos criativos, atesta Fiates. “A cidade é atrativa para profissionais desse mercado, que buscam qualidade de vida, além de trabalho.”
Fundada na capital paulista e estabelecida no Sapiens Parque, a produtora Animaking faz filmes de animação em “stop-motion” e está finalizando o longa-metragem “Minhocas”, uma parceria da Fox e Globo Filmes, avaliado em R$ 10 milhões. A empresa, cujo estúdio tem dez sets de filmagem, no pico de produção chega a empregar 40 pessoas.
De acordo com Fiates, pelo menos dois novos investimentos devem ser concluídos nos próximos dois anos. A partir do ano que vem, entra em operação no parque um centro de design e moda, focado tecnologia para vestir (wearable technology, na denominação em inglês). Grandes marcas como Nike, Philips e Adidas já investiram na ideia. O conceito reúne produtos que unem moda, eletrônica e ciência. Novas tecnologias podem ser embutidas dentro de roupas, acessórios e joias. O projeto de R$ 1,5 milhão tem participação da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc).
Já, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), está prevista para 2013 a inauguração no complexo de um centro de audiovisual estimado em R$ 7 milhões. A unidade de 3 mil m2 engloba estúdio para computação gráfica e será usada para incubar novos negócios.
As novidades não param por aí. Na semana passada, o Sapiens Parque apresentou a lideranças políticas e empresariais de Santa Catarina editais para a implantação de empresas de tecnologia e serviços. Estão reservados quatro lotes de 1,7 mil a 3,9 mil m2, que devem resultar em investimentos de R$ 14 milhões, em três anos.
Segundo a direção do complexo, essa é a segunda etapa do processo de captação de investimentos privados da unidade, iniciada com a formalização da parceria com a empresa catarinense Softplan/ Poligraph, de softwares de gestão. A companhia vai construir, até 2014, uma planta em uma área de 15 mil m2, com recursos de R$ 23 milhões.
No Rio Grande do Sul, o Parque Tecnológico do Vale do Sinos, com mais de 20 empresas em três unidades espalhadas nos municípios de Campo Bom, Novo Hamburgo e Estância, a busca por empreendedores da economia criativa começou no ano passado. Hoje, o local abriga três companhias do setor e a expectativa é chegar a 15 organizações até 2012, em um espaço de 900 m2 de área.
“Investimos mais de R$ 300 mil em infraestrutura para receber as novas empresas”, afirma Maurício Andrade, diretor executivo da Associação de Desenvolvimento Tecnológico do Vale (Valetec), que administra o complexo, com 515 profissionais de nível superior e técnico. “Há muitas companhias criativas dentro da cadeia da indústria de calçados”, ressalta Andrade, referindo-se a Novo Hamburgo, conhecida como importante polo calçadista nacional.
De acordo com o executivo, o governo do Estado do Rio Grande do Sul também criou um comitê para realizar políticas de prospecção de negócios da economia criativa. “Vamos estabelecer diretrizes para conhecer melhor o setor e organizá-lo”, diz ele, que integra o grupo.
No fim de junho, a Valetec lançou um edital para a instalação de novas empresas no parque gaúcho. As inscrições são dirigidas para empreendedores das áreas de TI e criatividade, como agências de design, comunicação e criação digital. O novo ambiente de inovação poderá alocar 17 negócios. O local já é endereço de seis institutos de pesquisa, como o centro de P&D da São Paulo Alpargatas.
Também no Recife, a capital pernambucana, se nota o crescimento do setor. O Porto Digital lança em novembro um edital para selecionar seis empresas para a área de economia criativa, nicho desenvolvido pelo parque tecnológico desde o ano passado. “Já temos 16 companhias do setor e a intenção é dobrar esse número até o ano que vem”, diz Francisco Saboya, presidente do Porto Digital, que abriga 191 companhias focadas em TI, em uma área de 100 hectares.
Até 2013, o arranjo produtivo localizado no centro histórico do Recife deve investir R$ 12,5 milhões na instalação de uma nova unidade, batizada de Porto Mídia, voltada para a economia criativa. O centro ocupará um prédio construído na primeira metade do século 19, em processo de restauração.
As novas empresas vão abranger seis áreas: games; cine, vídeo e animação; multimídia; música; design e publicidade. “A informática virou commodity”, justifica Leonardo Guimarães, diretor executivo do Porto Digital. “Pernambuco tem uma vocação cultural forte e vamos aproveitar esse recurso para criar novos negócios.”
Fonte: Valor Economico – Por Jacilio Saraiva
(o jornalista viajou a convite da Anprotec – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores)