Com capacidade para realizar trilhões de cálculos por segundo e a um custo proibitivo para a maioria das organizações, os supercomputadores tornaram-se uma exclusividade de grandes empresas, governos e universidades de ponta. Mais recentemente, porém, a disseminação de programas de engenharia com efeitos 3D e de softwares sofisticados para edição de vídeo estimulou a criação de uma nova categoria de equipamentos, menos potentes, mais ainda muito acima da média. Para efeito de comparação, pense em Batman, em vez de Superman: ele não voa, mas tem recursos de deixar o queixo caído.
Companhias como IBM, Hewlett-Packard (HP) e Nvidia farejaram a oportunidade e desenvolveram versões menores dos supercomputadores. Oficialmente, só são consideradas “super” as máquinas com capacidade de processamento acima de 25 teraflops – ou 25 trilhões de cálculos por segundo – e memória física superior a 80 terabytes (80 milhões de megabytes). Os “super” econômicos ficam aquém disso, mas apresentam um desempenho até 20 vezes superior ao de um computador convencional.
Andreas Schulze, dono do escritório Andresch Arquitetura, está entre os empresários que decidiram investir nessas máquinas. “Produzo maquetes tridimensionais com computação gráfica para apresentar aos clientes. Os programas são pesados e exigem computadores muito potentes”, afirma.
No escritório, Schulze instalou três estações de trabalho, cada uma com processadores de quatro núcleos, com velocidade de 3,2 gigahertz (GHz). Os computadores dispõem de um chip especializado em processar imagens. Batizado de graphics processing unit, ou GPU, esse tipo de processador vem ganhando destaque na indústria, ao acelerar trabalhos complexos em áreas que vão de engenharia ao cinema. “Consigo fazer um projeto 3D em minutos. Isso seria impossível sem as GPUs”, diz Schulze.
Para a Nvidia, uma das fabricantes desse tipo de processador, o crescimento da demanda no Brasil foi “geométrico”, afirma Christian Zaharic, diretor de marketing da companhia, sem citar números. A procura, diz o executivo, é mais forte nos setores de óleo e gás, químico, de serviços médicos e entre instituições financeiras, além dos centros de pesquisa e universidades. “Essa tecnologia é capaz de aumentar em 20 vezes a capacidade de processamento de um computador e ocupa menos espaço que uma placa-mãe convencional”, diz Zaharic.
O mercado de supercomputadores “ligth” vem apresentando um crescimento vertiginoso desde 2009, diz a gerente de produto da HP, Juliana Nigro, e a tendência é de continuar se expandindo, principalmente com a adoção do 3D em hospitais, estúdios de TV e outros segmentos.
De acordo com a executiva, as empresas de óleo e gás, mineração e de construção civil e engenharia têm feito investimentos mais fortes em computadores e softwares mais robustos. “A migração para computadores de alto desempenho está deixando de ser um desejo de consumo para se tornar uma necessidade”, diz.
Em geral, os componentes dos supercomputadores são importados dos Estados Unidos e da China, com a montagem feita no Brasil. Os equipamentos podem ser implementados na forma de uma única estação de trabalho ou como um cluster – um conjunto de computadores que operam interligados. A maior procura tem sido por estações independentes, afirma Juliana Nigro, da HP.
Sem citar números, o diretor de computação corporativa da Itautec, Lauro Vianna, diz que houve um aumento na procura por computadores de alto desempenho por parte de companhias de petróleo e gás, empresas farmacêuticas, institutos de pesquisa e hospitais que fazem uso de equipamentos de diagnósticos de imagem 3D.
No caso da IBM, a demanda por supercomputadores aumentou entre empresas das áreas de petróleo e gás, diz o gerente de soluções power da IBM no Brasil, Anibal Strianese. “Empresas que querem desenvolver tecnologias voltadas ao pré-sal estão interessadas em computadores com alta capacidade de processamento”, afirma Strianese. Segundo ele, institutos de pesquisa também procuram supercomputadores com capacidade de processamento superior a 1 teraflop.
A IBM também tem disputado negócios no mercado dos supercomputadores propriamente ditos. A companhia foi responsável pela montagem do Galileu, da Petrobras. Com capacidade de 160 teraflops (160 trilhões de cálculos por segundo), o equipamento foi constituído por 3,3 mil processadores produzidos pela própria IBM, além da Intel e da Nvidia.
Outros trabalhos da IBM incluem supercomputadores instalados na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na USP e no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Neste ano, diz Strianese, a IBM trará ao Brasil um supercomputador que fará parte do Blue Gene, projeto criado pela empresa em 2003, com o objetivo de produzir diversos supercomputadores que operam em conjunto.
“O projeto poderia ter vindo antes para o Brasil, mas não havia interesse de empresas pelo investimento”, diz o executivo. O nome da empresa que encomendou o equipamento, no entanto, é mantido em sigilo. Não há, afinal, história de “super” sem uma identidade secreta.