Início Dicas sobre 3D, Arte e Design O futuro do design no Brasil até 2022

O futuro do design no Brasil até 2022

Baseado em um estudo realizado pelo Centro Brasil Design, que avaliou o desenvolvimento do setor de design, visando o aumento da competitividade da indústria nacional, o trabalho resultou em três cenários, sendo um conservador, um moderado e um otimista. Estes pretendem fornecer uma relação causa e efeito sobre como o setor do design pode ajudar no aumento da competitividade da indústria nacional. Foram utilizados dois eixos condutores para analisar esses cenários: desenvolvimento do setor do design e a competitividade da indústria brasileira.

1. CENÁRIO CONSERVADOR

Em 2022, o Brasil passa por uma crise econômica séria em virtude da desindustrialização promovida pela entrada de produtos de outros países. As indústrias veem o futuro produtivo do Brasil em declínio e se posicionam de maneira a investir e levar seus polos produtivos para países com mais vantagens econômicas. Com a baixa competitividade da indústria, o setor de design se vê de maneira abandonada e sem muito progresso.  Não existe uma política nacional de design, tampouco articulações para que isso possa ser uma realidade efetiva. As ações de promoção são pontuais e descoordenadas, trazendo aparente progresso e mascarando a profundidade dos problemas. A profissão não é regulamentada e sofre pela marginalização e dificuldade de relacionamento com o setor público e o mercado. O design é visto como uma simples atividade estética e não como uma ação estratégica voltada à inovação. A profissão sofre com a invasão de talentos estrangeiros que vêm ganhando espaço no mercado criativo interno. O conhecimento do design é inserido apenas no ensino superior. Há uma dissociação cada vez maior entre mercado e academia, o que desvaloriza o ensino do design e causa evasão. O desinteresse pelo ensino superior aumenta a informalidade da profissão. Há uma grande escassez e elitização dos talentos locais, o que promove a diminuição da oferta de talentos no mercado. Os designers continuam com a mesma formação de oito anos atrás, o que distancia o profissional da realidade de mercado. Não existe uma compreensão da importância do design para a indústria e as ações do governo acontecem de forma isolada e não articulada.  Por falta de conhecimento e sensibilização no tema, o designer continua com pouca importância, as empresas criativas trabalham de forma isolada sem troca de conhecimento e não há interação entre as universidades e as empresas. As empresas de design atuam de diferentes formas dentro de diferentes condições e não formam um segmento específico de mercado. O conhecimento gerado não é compartilhado e é irrelevante. A ciência não é aplicada. Há uma grande dificuldade, barreiras tributárias e legais para a aquisição de equipamentos e materiais necessários, nacionais e internacionais, à pesquisa e ao desenvolvimento da competitividade nacional.

Não existem centros de pesquisa especializados em design. As metodologias e processos são estudados esporadicamente e os ensaios são realizados em laboratórios não especializados. Existem inúmeras barreiras e dificuldades no registro de proteção intelectual. Ocorre um empobrecimento da atuação do setor por limitação de aquisição de ferramentas de trabalho como equipamentos e softwares. Não há fomento específico em design para promover integração entre universidade e empresa, gerando um baixo fluxo de conhecimento. Os editais existentes tratam da inovação, e poucos contemplam design. Além disso, associam inovação à tecnologia, contemplando apenas grandes indústrias. Os órgãos financiadores não têm compreensão da importância do design como fator de inovação e há uma diminuição de disponibilidade de recursos para a área como consequência de um cenário de retração econômica. Os empresários não estão conscientizados, os prêmios são mais valorizados pelos designers do que pelas indústrias. E as ações existentes são realizadas de designers para designers, sem uma visão focada em negócios. A academia atende a demanda do mercado atual ocasionando a mediocrização do ensino e o isolamento da produção e proteção de ideias. Há um aumento no desenvolvimento de pesquisas, porém focadas em quantidade e não em qualidade, com pouca troca de conhecimento com o mercado. A falta de flexibilidade na forma de atuação dos pesquisadores aumenta seu afastamento da indústria.

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Modelo 3D realista de uma bicicleta feita para o curso de modelagem 3D da Tonka3D (clique para ampliar)

Em 2022, o Brasil vem conseguindo alavancar, porém com alguma dificuldade, a indústria brasileira e a melhoria em seus processos produtivos. A invasão de produtos vindos de outros países, inclusive da China, faz com que os industriais brasileiros tomem isso como um estímulo e passem a investir mais nos processos produtivos. Os meios políticos e institucionais buscam alternativas para que as indústrias possam trabalhar de forma mais eficiente e competitiva. Percebe?se uma necessidade muito grande de mudança e um sentimento de que é preciso trabalhar com mais eficiência a competitividade interna e externa, e agregar mais valor aos produtos brasileiros. Entende?se a necessidade de fazer mais uso de profissionais com capacidade criativa e o profissional de design é um desses talentos que muito têm a agregar para a melhoria do cenário de desindustrialização, devido à capacidade de diferenciação de produtos e serviços no mercado. Existe um movimento de articulação das instituições existentes para a criação de uma política nacional para o setor de design, porém a falta de uma agência governamental gestora e com articulação política e institucional faz com que as ações continuem pontuais e dispersas.

Como consequência, os esforços são grandes, porém com baixo resultado. Um dos fatos a ser comemorado é que o design foi incorporado na política pública de inovação, promovendo maior interação e competitividade para as indústrias e também no setor do design. A regulamentação da profissão é uma realidade e faz com que o setor atue de maneira mais formal e organizada. Apesar de haver um ambiente propício para a produção, o fator tributação ainda é algo a ser trabalhado, pois apesar de existirem movimentos legais nesse sentido, ainda não há políticas públicas claras que moderem os impostos para que haja maior competitividade no setor de design e nas empresas produtivas. A promoção no setor de design é pulverizada. O Brasil não tem um prêmio de excelência que promova e caracterize a criatividade e produção brasileira, existindo ainda uma quantidade excessiva e crescente de prêmios e concursos de design, sem foco ou especialização. Como consequência, as premiações diluem a valorização dos talentos e deixam de representar um diferencial no mercado. O excesso de premiações faz com que nenhuma seja de destaque e com real importância.

O design é tratado como algo secundário em revistas setoriais sem destaque para a capacidade produtiva e estratégica da profissão. Existe uma crescente articulação dos atores envolvidos com o design, em prol de uma agenda única e da sua valorização. Os atores promovem ações, porém são isoladas e desarticuladas. Apesar de haver uma valorização dos talentos, o mercado entende que é preciso maior sinergia para que a valorização profissional realmente aconteça. Somente alguns escritórios se destacam, mas não são referências internacionais e ainda há uma evasão de talentos do país. Há mais fomento e acesso a ferramentas, equipamentos e softwares para estabelecer a formalização do profissional. Começa a haver maior transferência de conhecimento da academia para o mercado e há um fortalecimento dos canais de divulgação e valorização dos talentos acadêmicos. Os conhecimentos de design inseridos no ensino médio permitem melhor direcionamento profissional. As instituições passam a focar mais em gestão do design em detrimento da formação técnica. Entretanto, o mercado ainda precisa de profissionais com capacidade técnica, aliada a visão sistêmica, estratégica e de mercado. Apesar de existirem muitas ações em design, elas são pulverizadas e pouco articuladas na promoção do design no cenário nacional e na sensibilização de gestores formadores de opinião e o público em geral. Porém, começa a haver maior divulgação e interlocução com órgãos de fomento e investimento para incluir o design nos instrumentos financiadores.

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2. CENÁRIO MODERADO

Passam a existir mais programas de incentivo à integração universidade empresa e centros de pesquisas, mas esses não são amplamente implementados, diminuindo a articulação com as empresas e se atendo a ações pontuais. O interesse na criação de programas do governo para incentivar a inserção da cultura do design na indústria é mais frequente, no entanto, os recursos são esparsos. Quanto à geração de conhecimento, há valorização das pesquisas aplicadas e um pequeno aumento de produções científicas e patentes, mas ainda com pouca aplicação. O foco e o interesse das pesquisas se limitam ao mercado e às estratégias nacionais e alinhamento das unidades de P&D. Há um movimento para o desenvolvimento de ambientes propícios à inovação, porém são pontuais e não se concretizam.

1. CENÁRIO OTIMISTA

Em 2022, há uma maior tendência na participação e integração da indústria brasileira nas cadeias globais. Nesse sentido, há um grande impulso na competitividade industrial e uma prerrogativa em fortalecer o que é produzido pelo Brasil. Dentro de um cenário no qual os negócios de transformação não são tão promissores, é preciso mais que criatividade, é preciso trabalhar com técnica e compromisso de querer fazer o país se destacar por seus serviços criativos. O profissional de design é um desses talentos que muito tem a agregar e impactar no crescimento da economia nacional.

Considerando isso, há um ambiente legal para a atuação das empresas de design com políticas públicas inovadoras, específicas e tributárias, e de incentivo para desenvolver o mercado de design. Isso faz com que os talentos profissionais sintam?se valorizados, e com isso o país retém seus talentos criativos agregando maior valor à identidade brasileira.  A valorização do profissional e do mercado de design traz grandes benefícios a toda uma cadeia produtiva de valor. Dentro de um círculo virtuoso, haverá maior compreensão e com isso inserção do conteúdo design no ensino fundamental e médio, acarretando assim uma maior percepção sobre uma profissão de futuro e significância no mercado e também uma compreensão do cidadão quanto ao que vem a ser design. Esse processo educativo permite que o cidadão tenha ainda uma compreensão melhor dos produtos e, consequentemente,  se torne um consumidor mais consciente de suas escolhas, como também deixa as indústrias mais abertas aos processos de inovação. Outro fator importante nesse cenário é a troca e a sinergia que o mercado terá com o sistema de ensino. As indústrias estão abertas e são parceiras das universidades, trazendo assim uma maior articulação entre o ensino e o mercado. Atividades de articulação e troca de conhecimento entre mercado e talentos é um quesito importante dentro das linhas de fomento. O mercado é produtor do conhecimento tácito e a academia aproveita esse conhecimento para gerar conteúdo e avançar em novos modelos de educação, valorizando as pesquisas aplicadas de forma equilibrada e eficiente.

Alguns modelos eficientes de integração entre universidade e empresa geram um canal mais aberto para open innovation, trazendo o lado prático da indústria e do mercado para dentro das universidades. A promoção e a visibilidade para os produtos brasileiros e seus talentos são essenciais dentro das políticas públicas que envolvem inovação e o desenvolvimento industrial do país e por isso linhas de fomento e investimentos voltados para produção de pesquisa, participação em congressos, exposições, feiras comerciais e publicações são uma realidade, assim como o incentivo e fomento à residência técnica com o objetivo de formar melhor os talentos em design. Um fator positivo em 2022 é que as políticas de design estão bem definidas, focadas e significativas. Há uma agência governamental, com recurso próprio, que articula, pensa, estuda e promove o design nas esferas governamentais e industriais, alinhando e criando sinergia entre as ações ligadas ao design e a competitividade da indústria nacional. Um dos pontos fortes é que a profissão está regulamentada, promovendo maior competitividade profissional e sinergia entre as associações profissionais, facilitando a mensuração da atividade e maior segurança e benefício ao setor, inclusive nas questões tributárias. O design, por ser um fator preponderante na política nacional de inovação, é incentivado e promovido por órgãos de fomento, há disponibilidade orçamentária focada na promoção do design nacional e internacional; há linhas de crédito e redução de impostos para aquisição de softwares, equipamentos e ferramentas de trabalho que apoiem a formação de novos talentos. O setor de tecnologia é um grande aliado dos novos talentos e das indústrias, pois existem polos tecnológicos próximos aos centros industriais, onde estão localizadas empresas de segmentos e tecnologias diferentes, gerando um ambiente propício à criatividade e à inovação.

As universidades estão fortemente ligadas aos clusters inovadores. Não há barreiras formais para integração universidade ? empresa, criando assim uma aplicação prática de novos conhecimentos na indústria e nas universidades.  Sem tais barreiras, existem facilidades para aquisição de equipamentos e materiais, nacionais e internacionais, para empresas criativas, laboratórios e instituições ligadas ao design e à inovação. Existem centros, núcleos e laboratórios de design independentes ou dentro das universidades que estudam tanto as metodologias do design em si quanto os diversos segmentos da indústria e os ensaios laboratoriais. Existe um sistema de proteção intelectual ágil, simplificado e de fácil acesso e amplamente utilizado pelas empresas, designers e estudantes. Os efeitos positivos aumentam a inteligência coletiva com o mercado e as atividades do setor do design ajustadas e funcionando em prol de uma economia mais efetiva. Há o reconhecimento internacional da qualidade do design brasileiro. O design se torna um dos fatores preponderantes na Política Nacional de Inovação. O setor de design ganha tanta significância que o Presidente da República abre a cerimônia de premiação do maior prêmio de design no Brasil.

RESUMO

Conservador: Mercado confuso e informal. Talentos marginalizados e alta estagnação profissional. Produção de conhecimento alta, porém com baixa qualidade. Ambiente político e institucional desorganizado e passivo. Investimentos e linhas de fomento com baixa compreensão e baixa articulação. Tecnologia desenvolvida e com grande dificuldade em aquisição.

Moderado: Mercado em crescimento moderado. Talentos com valorização moderada. Produção do conhecimento com aproveitamento moderado. Ambiente político e institucional em alinhamento moderado. Investimentos e linhas de fomento com disponibilidade moderada. Tecnologia bastante desenvolvida, mas com pouco aproveitamento.

Otimista: Mercado focado na inovação e alta competitividade da indústria. Talentos com alta valorização e alto índice de profissionalismo.
Produção de conhecimento com alto aproveitamento da indústria. Ambiente político e institucional afinado com o setor de design. Investimento e linhas de fomento alinhados e voltados à competitividade. Tecnologia em crescimento elevado e de fácil acesso.

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