A Adobe Systems Inc. perdeu ano passado uma batalha importante para Steve Jobs, o cofundador da Apple Inc., sobre uma tecnologia de vídeo. Agora a empresa de software está se reinventando como uma central completa de tecnologia para departamentos de marketing. No último ano, a Adobe fechou sua divisão de mais de US$ 1 bilhão voltada a departamentos de informática, reformou o modelo empresarial de seu principal conjunto de programas, o Creative Suite, e abandonou sua antiga tentativa de tornar a tecnologia de vídeo Flash compatível com eletrônicos portáteis como o iPad, da Apple.
“Se você vai virar para a esquerda, você não faz isso aos poucos”, disse o diretor-presidente da Adobe, Shantanu Narayen.
As mudanças ocorrem depois de uma guerra verbal com a Apple – especialmente com Jobs, que não permitiu o Flash no iPhone e no iPad. A briga, que eclodiu em 2010, pôs em questão a verdadeira utilidade do Flash – uma das principais tecnologias da Adobe, que é usada para assistir a vídeos na internet. “O Flash foi um sucesso tão grande deles durante tanto tempo”, que parecia ser a empresa, disse Jeffrey Hammond, analista da Forrester Research.
Internamente na Adobe, a batalha sobre o Flash motivou uma crise de identidade e colaborou para a ebulição de várias tensões organizacionais. Agora, depois de muito debate, a empresa, que fabrica software criativo como o Photoshop, está mudando seu foco para os departamentos de marketing, que considera uma oportunidade bilionária.
A Adobe apresentou esta semana um dos resultados de sua transformação: uma versão atualizada da Creative Suite. O novo software será oferecido por uma assinatura mensal de US$ 50 – o pacote tradicional chega a custar US$ 2.600 – como parte da Creative Cloud da empresa, que oferece programas pela internet e também usa a rede para compartilhar e armazenar arquivos. A Adobe continuará vendendo a versão tradicional.
Muitas empresas de software já tentaram adotar um modelo de assinatura nos últimos anos, e algumas iniciativas como a da SAP AG para oferecer uma versão barata de seu programa administrativo enfrentaram resistência cultural. Outras, como a Ariba Inc., fizeram a transição quando passavam por um mau momento financeiro que diminuía os riscos da mudança. Mais recentemente, empresas como a Oracle Corp. passaram a oferecer mais produtos por assinatura, em parte por meio de aquisições de outras companhias.
A batalha com a Apple ferveu em abril de 2010, quando o falecido diretor-presidente da Apple publicou um artigo de 1.700 palavras altamente crítico sobre o uso do Flash nos eletrônicos da empresa. Jobs escreveu que “o Flash não é mais necessário para assistir vídeo ou consumir qualquer tipo de conteúdo da web.”
Embora a Adobe não ganhasse dinheiro com o Flash diretamente, ele era um software importante para a empresa e estava embutido em vários de seus produtos.
Logo depois do artigo, programadores começaram a se distanciar do Flash e a adotar outra tecnologia, a HTML5. Uma porta-voz da Apple não quis comentar.
A princípio, alguns executivos da Adobe ficaram mais preocupados com a Creative Suite. Ela precisava tornar o produto mais barato.
A Adobe começou em 2010 a desenvolver a Creative Cloud, a nova versão. Com um modelo de assinatura mensal, o produto inverte totalmente o modelo financeiro da Adobe, que até então se baseava em grandes pagamentos iniciais. Isso significa que a empresa pode ter um declínio ou desaceleração na receita no curto prazo mesmo enquanto vende mais em termos unitários. A consequência é que muitas empresas de software têm hesitado em fazer a mudança.
Ao mesmo tempo, a Adobe lutava para encontrar uma solução para sua estrutura organizacional. A empresa tinha um grande divisão de produtos para empresas, responsável por produtos como ferramentas de teleconferência pela internet. Ela também tinha criado em 2009 uma nova divisão voltada principalmente a departamentos de marketing, depois da aquisição da firma de análise de dados Omniture. As duas divisões vendiam produtos parecidos, causando tensão.
Embora a divisão empresarial tivesse divulgado US$ 1,2 bilhão em vendas em 2011, ou mais de um quarto da receita total da empresa, Lynch disse que Adobe achava que seus produtos “não estavam se popularizando” em relação às ofertas de gigantes como a International Business Machines Corp.
Em agosto, Lynch disse num e-mail a Narayen e ao diretor financeiro da empresa que achava que ela precisava se concentrar no software para marketing. Em novembro a Adobe anunciou uma nova divisão que se concentraria em produtos para departamentos de marketing e que a empresa demitiria 750 pessoas, ou 7,5% de sua equipe.
Até agora as mudanças na Adobe foram recebidas positivamente por Wall Street. Mas conquistar os departamentos de marketing pode demorar mais.
“Sem dúvida que existirá uma certa inércia empresarial que precisará ser superada”, disse Wes Lindquist, gerente de tecnologia de criação da fabricante americana de cartões comemorativos Hallmarks Cards Inc., cuja equipe usa o Photoshop e outros produtos da Adobe.
Fonte: Valor