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Aposta na produção de filmes nacionais em 3D

Em pleno reinado das comédias nacionais, o cinema brasileiro prepara-se para uma outra onda que também tem potencial para se tornar um sucesso de público. Depois de uma estreia tímida em 2011 com o desenho Brasil Animado, começam a chegar às telas em 2013 os primeiros longas-metragens concebidos para exibição em 3D digital em ‘live-action’, filmados com atores.

O pioneiro nessa lista ainda pequena será, não por acaso, uma fita de humor: Se Puder… Dirija!, com Luiz Fernando Guimarães, Reynaldo Gianecchini e Leandro Hassum, tem lançamento previsto para 5 de abril. Em dezembro, será a vez de Amazônia – Planeta Verde, coproduzido pela Gullane Filmes (de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias), que mostrará as belezas da região pelo olhar de um personagem improvável: um pequeno macaco chamado Kong.

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“Um filme em 3D tem um custo muito alto e as comédias estão em alta no Brasil. Foi uma opção até natural”, explica o diretor de Se Puder… Dirija!, Paulo Fontenelle, carioca que, sem nenhuma experiência no ramo tridimensional, fez o documentário Evandro Teixeira – Instantâneos da Realidade (2003) e o ficcional Intruso (2009).

Produzido pela Total Entertainment, de longas populares como Sexo, Amor e Traição e Se Eu Fosse Você, o filme tem a ambição de abrir o mercado brasileiro para lançamentos em 3D. O custo da criação de uma fita desse formato ainda é alto – 30% do valor do orçamento total – e o circuito de exibição, pequeno e restrito às superproduções americanas. “O que estamos fazendo é um laboratório controlado. Também lançaremos o filme em cópias 2D”, diz a produtora Walkíria Barbosa.

Com orçamento total de R$ 8 milhões, a produção do longa “importou” dois profissionais para cuidar da aplicação técnica do 3D: o brasileiro Pedro Guimarães, diretor de fotografia, que vive em Los Angeles e se especializou em cinema 3D, e o americano Bobby Settlemire. O consultor José Dias, responsável pelo departamento de 3D da TV Globo, prestou consultoria. “A intenção era fazer um filme tão bom tecnicamente quanto os americanos”, afirma Walkíria.

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Para criar os efeitos tridimensionais, a equipe do longa teve que usar duas câmeras nas filmagens das cenas. Uma pequena variação na distância entre as lentes pode prejudicar a experiência do espectador. O objetivo: lançar o público dentro de um dos principais cenários do filme, um automóvel.

Na trama, João (papel de Luiz Fernando Guimarães) é um manobrista que precisa dar um jeitinho para fugir do trabalho e encontrar o filho. Esse compromisso, no entanto, se transforma numa odisseia em quatro rodas. A seguir, leia entrevistas com a equipe do longa sobre a experiência de lançar um filme em 3D no Brasil:

Quais são os desafios de dirigir um filme em 3D?

O que a gente quis evitar foi o uso do 3D de uma forma gratuita, só por usar. A principal diferença, em comparação a um filme convencional, vem no planejamento. A gente quis fazer vários workshops, estudar bastante, e, no caso, há regras muito específicas de posicionamento de câmera, de preocupação com o olhar do espectador. Não se pode usar muito a câmera na mão para que o espectador não fique com dor de cabeça… O principal desafio foi a adaptação de linguagem ao roteiro, para que ele oferecesse elementos que funcionassem nessa tecnologia.

O cinema americano usa o 3D principalmente para animações e fitas de fantasia e ação. Por que filmar uma comédia no formato?

A ideia surgiu quando percebemos que o mercado internacional estava começando a usar o 3D em outros gêneros, não só na ficção científica e na animação. Por que não fazer uma comédia? No caso, o filme se passa muito dentro de um carro. Com o 3D, o espectador se sente dentro do veículo. Também mudamos um pouco o roteiro para aproveitar os efeitos do 3D junto com as piadas. Num determinado momento, uma torta é jogada na direção do espectador.

Existe potencial no mercado brasileiro para filmes em 3D?

O que estamos fazendo é um teste. Estou torcendo pelo filme. Se ele for bem sucedido, vai abrir o mercado. A tecnologia é cara ainda, mas está se tornando mais acessível. Neste momento, percebo que o grande problema do 3D é que você está sempre concorrendo com um grande filme americano, com uma superprodução, e nunca com um filme mediano. Acho que os filmes independentes em 3D ainda vão levar um tempinho para ocupar essas salas. Mas a tendência do mercado é essa.

Quando nasceu o projeto do filme?

Estamos estudando esse projeto há mais de sete anos. Decidimos no Festival do Rio do ano retrasado, quando foi organizado um grande workshop de 3D. A partir daí, montamos toda uma operação para fazer o longa. O importante era que ele tivesse a mesma qualidade dos filmes americanos. Trouxemos a equipe de 3D dos Estados Unidos e estamos finalizando o longa lá.

Por que vocês decidiram investir no 3D?

Se você comparar o faturamento de um filme em 3D com um tradicional, vai notar que o faturamento do 3D é maior. Detona Ralph, por exemplo, rendeu mais que De Pernas pro Ar 2 porque foi lançado com cópias em 3D. O mercado ainda é pequeno, mas temos que buscar maneiras para que o produto cresça. A vantagem de fazer uma comédia em 3D é que, para o espectador, a sensação de se estar dentro do filme, que se passa em grande parte num carro.

O filme pode ser considerado um laboratório para o uso do 3D no cinema brasileiro?

Um laboratório controlado. Acreditamos muito na proposta do filme. Não tenho dúvidas de que ele vai abrir um novo campo, inclusive nos Estados Unidos, que, depois do sucesso do nosso filme, pode começar a produzir mais comédias em 3D. É um desafio, é diferente, a gente tem que se planejar muito. A direção de arte é diferente, a fotografia é feita de outra forma. Mas, antes de qualquer coisa, é necessário produzir um filme que funcione perfeitamente também em 2D.

Como começou a sua experiência com filmes em 3D?

Eu já trabalhava aqui em Hollywood há alguns anos com câmeras. Por ter um background em fabricação de equipamentos protótipos, fui convocado pra ajudar a desenvolver uma nova câmera 3D. Durante esse tempo, aprendi muito nessa área. Dei muita sorte porque fui parte de uma equipe de alto calibre. Aprendi com os melhores. O resultado foi uma câmera protótipo superavançada que foi usada em vários testes para filme IMAX 3D. Poucos meses depois, o filme Avatar explodiu, em 2009. Daí para frente, 80% dos meus trabalhos foram em 3D.

Qual é a principal diferença na produção de um filme em 3D?

Em primeiro lugar, dobra a quantidade de câmeras e equipamentos. E, com isso, aumenta a complexidade de tudo que estamos fazendo em torno da câmera. E tem mudanças em quase todos os departamentos de um filme. Os detalhes se tornam ainda mais importantes em 3D. Fazer o filme que fizemos com o nosso orçamento e em apenas 24 dias é prova de que, hoje em dia, filmar em 3D não acrescenta muito tempo na produção.

O 3D brasileiro tem futuro?

Acredito que sim. Aqui em Los Angeles o 3D já está no dia a dia de produção porque os produtores enxergaram e viram os números de bilheteria. Isso é o que leva os produtores a fazer mais filmes em 3D. Acredito que o mesmo vá acontecer no Brasil. Pense bem: imagine Tropa de Elite em 3D. Eu correria para o cinema para ver!

Fonte: Veja São Paulo

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