Conhecida pelo lançamento de videogames com orçamentos enormes e por sua ruidosa agitação, a convenção anual E3 aconteceu neste ano em Los Angeles entre os dias 11 e 13 de junho. E, espremida entre as duas animadas salas da convenção, havia uma área mais tranquila que parecia uma galeria de arte de Nova York.
Era o local da exposição “Into the Pixel” [Dentro do pixel], coletânea judiciosa de 16 obras de arte digitais, tiradas de jogos de videogames e impressas em tela, e que estavam sendo comercializadas nos arredores. Os que se depararam com estas obras talvez pudessem entrever alguns segredos não revelados, já que as imagens eram de jogos ainda não lançados.
Exposições recentes no Museu de Arte Moderna de Nova York e no Museu Smithsonian de Arte Americana, em Washington, consideraram essa arte sob uma luz diferente, enfocando cada jogo como um todo. “Essas pessoas não são nerds de computador, são artistas de verdade”, disse Martin Rae, presidente da Academia de Artes e Ciências Interativas, que produziu a exposição com a Associação de Software de Entretenimento.
Quando “Into the Pixel” começou, em 2004, os executivos do setor procuravam uma maneira de celebrar o décimo aniversário da E3. Foi um momento oportuno, porque a indústria havia começado a produzir computadores pessoais e consoles de jogos com processadores gráficos mais potentes, que permitiam aos artistas realizar seus sonhos mais loucos. Com texturas, sombras e iluminação muito mais ricas, eles podiam criar algo semelhante à realidade em seus mundos virtuais.
Para a atual competição, mais de 200 obras foram apresentadas em meio digital, incluindo “Remembering Us” [Lembrando de nós], imagem do artista John Sweeney para um futuro jogo de videogame, Os últimos de nós (The Last of Us). Cada obra foi considerada e classificada por um júri de sete membros.
Jon Gibson, empresário cultural por trás da produtora iam8bit e curador da mostra, descreve “Into the Pixel” como uma espécie de hall da fama. “Esses artistas geralmente são desconhecidos, trabalhando em silêncio e em ambientes muito fechados”, disse ele. “Era importante darmos a eles o respeito que merecem.”
Ao longo dos anos, o júri incluiu produtores de cinema e curadores do mundo da arte em uma iniciativa para realçar o perfil dos trabalhos. A jurada Patricia Lanza, diretora de talento e conteúdo no Espaço de Fotografia Annenberg, em Los Angeles, disse que foi atraída pelas peças bem executadas, que a tocaram emocionalmente. “É a arte da ilustração em seu nível mais requintado. É arte de verdade? Algumas podem chegar a esse ponto”, disse. “Algumas peças eram realmente extraordinárias.”
Uma das obras aclamadas pelo júri foi “Back From the Wild” [De volta da natureza], imagem de Destiny, futuro jogo de Activision e Bungie, criadores da série campeã de vendas Halo. A peça, feita pelo ilustrador da Bungie Jaime Jones, mostra um personagem com armadura, semelhante a um robô, com uma mancha de sangue na cabeça. Jones disse que procurou um nível de incongruência e queria que as pessoas perguntassem: “Por que essa forma robótica está sentindo cansaço?”
Outras imagens não eram tão fortes ou premonitórias. Nathan Stapley, que trabalha com o designer de jogos veterano Tim Schafer (Psychonauts, Grim Fandango) desde 1999, executou uma pintura para o jogo Broken Age (Era partida), que evoca a fantasia onírica e o isolamento juvenil de um livro de imagens infantil. “Broken Age será um jogo de aventura em 2D, à moda antiga”, disse Stapley. “O menino que vocês veem vive em uma espaçonave matriarcal –um ambiente muito regulado. A garota está presa em sua aldeia e será sacrificada na cerimônia tribal. Eu quis mostrar que eles vivem vidas paralelas.”
Depois da estréia na E3, as obras serão também apresentadas em outras exposições de jogos de videogames, como a PAX, evento que começa no dia 30 de agosto em Seattle (Washington). Rae, da Academia de Artes e Ciências Interativas, disse esperar que as galerias convencionais acabem participando da turnê “Into the Pixel”. Ted Price, presidente da Insomniac Games, que fez as séries Ratchet & Clank e Resistance, classificou o evento como uma “exposição de belas-artes” e que poderá “levar toda uma nova geração aos museus”.
Fonte: Folha de São Paulo