A corrida para livrar o usuário de computador do mouse está acelerando e a inspiração vem da possibilidade de transformar mãos e outras partes do corpo em controles digitais.
A meta é permitir que computadores e outros aparelhos sejam controlados com gestos – e não apontando e clicando com um mouse ou tocando diretamente a tela. Defensores da idéia acham que a inovação pode não só facilitar a execução de muitas tarefas atuais, mas também dar cabo de coisas mais complicadas como criar modelos tridimensionais, provar roupas, treinar atletas e conferir imagens médicas durante cirurgias sem tocar nada.
Esse universo de possibilidades vem causando uma correria entre pesos-pesados da alta tecnologia, incluindo Microsoft Corp., Apple Inc., Google Inc. e fabricantes de TVs, computadores e outros equipamentos. A Microsoft, que ajudou a deflagrar a corrida com o lançamento, em 2010, do Kinect (um acessório para games), lançou ontem uma nova versão do software que permite a programadores criar aplicativos para a versão do produto para aparelhos no sistema Windows.
Enquanto isso, empresas menores estão criando produtos mais baratos para ajudar a levar a tecnologia do comando por gestos ao grande público. Esta semana, uma empresa novata chamada Leap Motion começou a receber pedidos para um aparelho que permite ao usuário controlar qualquer computador de mesa ou notebook com simples movimentos de mãos e dedos no ar.
O dispositivo, que parece um pacotinho de chiclete e nos Estados Unidos está sendo vendido por US$ 69,99, é feito para captar gestos especialmente discretos. Enquanto aparelhos como o Kinect registram movimentos mais amplos – como o de uma raquete de tênis -, a Leap Motion diz que com sua tecnologia o usuário poderia redigir palavras ou desenhar algo, já que o dispositivo captaria movimentos em intervalos de milímetros.
David Holz, diretor de tecnologia da californiana Leap, mostra como o produto permite a alguém girar e dar zoom num globo digital com um só movimento, algo que exigiria vários passos com o uso de um mouse ou uma tela sensível ao toque. “Você se sente realmente conectado”, diz Holz. Ferramentas atuais de controle de computadores, em comparação, “não funcionam como na vida real”.
Nem toda interação com o computador será necessariamente melhor por meio de gestos. Mas novas interfaces vêm reiteradamente ditando quem ganha e quem perde no mundo da tecnologia. Foi o caso da aposta fundamental da Apple no mouse com o Macintosh na década de 1980 e em aparelhos com tela sensível ao toque desde 2007 – com o iPhone e, mais tarde, o iPad.
Nesse caso, a Apple ainda não apontou a direção que vai tomar, mas uma pessoa a par do assunto disse que a empresa vem estudando o controle por gestos há anos. Até já patenteou um invento para permitir a manipulação de interfaces tridimensionais sem o toque da tela. A empresa não quis comentar.
Defensores da ideia acreditam que a tecnologia baseada em gestos, juntamente com a de ativação via voz, permitirá a criação de aparelhos e aplicativos totalmente inéditos, como robôs que reconhecem e interagem com o ser humano com base em seus movimentos ou programas de preparo físico capazes de dizer se alguém está executando corretamente um exercício.
A arena já atrai capital de risco. A Bot Square Inc., cujo aplicativo, o Flutter, analisa imagens de uma webcam para que o usuário acione e interrompa a reprodução de músicas em programas como o iTunes ou Spotify com um gesto da mão, recebeu US$ 1,4 milhão das firmas Andreessen Horowitz e NEA, entre outras. A empresa, da Califórnia, planeja lançar outros aplicativos – e interpretar mais gestos – em breve, diz o presidente Navneet Dalal.
A Leap Motion recebeu um total de US$ 14,55 milhões da Highland Capital Partners e da Founders Fund. Andreessen Horowitz e outras firmas também investiram.
A atual versão do Kinect para computadores com sistema Windows – lançada no começo do ano – capta movimentos do corpo inteiro. A empresa diz, no entanto, que o novo software vai permitir o registro de mais articulações, incluindo da cabeça, do pescoço e dos braços.
Craig Eisler, gerente geral do Kinect para Windows, diz que a versão atual do software foi baixada mais de 350 mil vezes por programadores. A tecnologia poderia ser empregada para ajudar um cirurgião a conferir imagens em 3D durante uma operação e para criar aparelhos baratos de geração de imagens tridimensionais do corpo.
Outras variações do conceito estão a caminho. A Google há pouco deu uma prévia de um óculos especialmente projetado para dar ao usuário informações sobre o mundo a sua volta, combinando sensores e reconhecimento de voz, juntamente com mecanismos de controle de gestos.
Na PrimeSense Ltd., firma israelense de tecnologia de sensores de movimento, o diretor de marketing Tal Dagan já prevê a incorporação da tecnologia de gestos inserida em painéis de publicidade que pode mudar dependendo de quem está a sua frente e em robôs que podem guiar o consumidor pela loja.
Assim como o Kinect, o Leap trabalha com luz infravermelha. O aparelho cria uma zona tridimensional na qual pode detectar o mais mínimo movimento. Embora seja capaz de controlar qualquer software sendo executado em um computador ao qual esteja ligado, a empresa quer que programadores criem aplicativos otimizados especificamente para captar gestos.
Fonte: Valor Econômico