A ideia de filmar “Piratas Pirados!” nasceu há cinco anos, quando Peter Lord “morria de tédio” durante uma reunião na Aardman Animations. Enquanto novos projetos eram apresentados, o cineasta e produtor inglês começou a folhear o livro “The Pirates! In an Adventure with Scientists”, de Gideon Defoe, deixado sobre a mesa. “Quando passei a rir alto, o que provavelmente foi considerado desrespeitoso pelos colegas, percebi que tinha encontrado o que procurávamos”, disse Lord, co-fundador do estúdio de animação localizado em Bristol, no sudoeste da Inglaterra. Criada em 1973, em parceria com David Sproxton, a Aardman é mais conhecida por obras de stop motion (a artesanal técnica de animação de massinha), como “Fuga das Galinhas” (2000) e a franquia “Wallace e Gromit”, vencedora de três Oscars.
“O caráter lúdico, sagaz e malicioso do livro está em perfeita sintonia com o espírito do nosso estúdio”, disse Lord. O enredo gira em torno de grupo de piratas fora de controle, chefiados por um capitão obcecado em ganhar o prêmio de Pirata do Ano. O ator inglês Hugh Grant (“Um Lugar Chamado Notting Hill”) empresta a voz ao protagonista, o capitão vaidoso que terá encontro surreal com Charles Darwin (dublado por David Tennant).
“Admiramos muito o trabalho realizado por estúdios como a Pixar. Mas não nos sentimos à vontade trabalhando apenas com um computador”, afirmou Lord, diretor do filme, que usa a técnica de animação de stop motion, muito mais lenta se comparada à de computação gráfica. Ocupado com o trabalho de produtor, ele não gritava “Ação!” num set desde “Fuga das Galinhas” (2000). “Por ter os personagens em minhas mãos em cada tomada, fazendo eu mesmo os seus movimentos, acredito lhes dar muito mais humanidade.’
Embora realize algumas produções em computação gráfica, como “Por Água Abaixo” (2006) e “Operação Presente” (2011), o “coração” da Aardman está nos bonecos articulados, feitos de silicone e látex. “Como os modelos são fotografados quadro a quadro, para fazer um personagem sorrir em cena são necessárias de seis a oito tomadas.” Cada personagem tem, em média, quase 200 modelos de boca com diferentes expressões. “O processo evoluiu muito. Antes precisávamos esculpir cada movimento de boca no próprio personagem, que era feito de massinha para moldar. Felizmente, hoje, só precisamos trocar a boca, que é de encaixar.”
“Piratas Pirados!” recorre à computação gráfica apenas quando “não há outro jeito”. “Tivemos de fazer o mar digitalmente, já que a alternativa, em stop motion, ficaria ridícula. Quem acreditaria num mar de massinha?” O recurso também foi usado para criar pequenos detalhes, como labaredas, ou para compor pano de fundo. “Quando há muitos personagens em cena, aqueles que aparecem ao fundo são feitos por computação. Do contrário, não teríamos animadores suficientes para o trabalho”, disse Lord, que teve equipe de 320 pessoas para o filme.
Este é o primeiro stop motion em 3D da Aardman. “Como os nossos sets são reais e tangíveis, diferentemente daqueles criados em computação, o formato deixa o espectador com a sensação de estar no meio de um cenário”, afirmou o diretor, lembrando que o stop motion sempre teve uma preocupação tridimensional – embora o espectador até então não tivesse a chance de apreciar a obra como tal. “O 3D é uma grande ferramenta no mundo da animação, já que a nossa plateia presta cada vez mais atenção aos detalhes.”
Para o diretor e a equipe, o navio usado no filme (de 350 quilos, 4,2 m de comprimento e 6m de altura) não foi apenas mais um objeto de cenário. “Me lembro bem do dia em que o navio chegou ao estúdio. Ficamos perplexos diante dessa escultura majestosa, uma verdadeira obra de arte. Éramos como crianças diante de um brinquedo novo”, disse o diretor de 58 anos. Este é mais um motivo para a Aardman continuar insistindo no stop motion. “Por mais que os filmes da Pixar sejam divertidos, quando você visita os estúdios deles não vê nada além de homens trabalhando em seus computadores. A Aardman é uma grande oficina de artes, com gente brincando de verdade.”
Fonte: Valor