Se você deseja trabalhar com games, acompanhe esta entrevista com o artista 3D e Game Designer Rodrigo Banzato, onde ele dá várias dicas, fala sobre o mercado de atuação, oportunidades, projetos, programas, cursos, métodos de produção, ideias, referências, concept design etc.
1. Poderia nos falar um pouco sobre você e como você se envolveu na indústria de games?
Bom, tudo começou há 9 anos atrás quando conheci o 3D pela primeira vez enquanto fazia a faculdade de Desenho Industrial na FAAP em São Paulo e como sempre fui apaixonado por games, levei o 3D como uma fonte de inspiração e motivação, além de poder aplicar em projetos na faculdade. A ideia de que eu poderia fazer parte da produção de um conteúdo voltado para games já era muito gratificante.
Mesmo sendo um trabalho amador e de iniciante, era fantástico poder ver meu primeiro personagem na tela! Fiz dois curtas em 3D, um em 2002 e outro em 2003, ambos para a faculdade. Um deles se chamava Fightvenge e o outro Tonka. Ambos foram concluídos no tempo previsto e apesar da baixa qualidade foram trabalhos determinantes que me levaram adiante.
Nos anos seguintes surgiram oportunidades em diversas áreas como TV, onde pude fazer pequenas vinhetas e menus de DVDs e cinema e onde tive a chance de participar do time que fez o gol do Pelé em 3D para o filme Pelé Eterno. Mas nenhuma área é tão gratificante para mim como a de games, por isso até hoje venho me especializando cada vez mais na produção e desenvolvimento de games.
2. Seu portfólio é bastante diversificado, contendo animações, ilustrações, personagens etc. Como você enxerga sua qualificação num mercado tão especializado?
Essa é uma ótima pergunta. A minha resposta é que eu faço tudo com muita paixão e dedicação, lógico, algumas áreas realmente não fazem parte da minha especialização, mas tenho muito prazer em fazer um esforço a mais para deixar sempre tudo bem completo. Sei que existem pessoas que focam seu portfólio apenas em animação ou em modelagem, enfim, acho isso algo muito pessoal de cada artista.
Eu tenho prazer de aprender e evoluir a cada trabalho que faço e com um trabalho mais diversificado, tenho a oportunidade de gerenciar e criar um workflow, ou seja, um método de trabalho ou, se preferir, uma sequência de trabalho dentro de um cronograma. Gosto muito de poder gerenciar, produzir e analisar a qualidade final de cada produção.
Em 2010 tive uma grande oportunidade de trabalhar com artistas muito talentosos dentro de um time formado nos EUA e o trabalho realmente ficou incrível. E devido ao meu portfólio ser bem variado, tive a chance de ser o Diretor de Arte 3D deste projeto, onde fiquei encarregado da qualidade final dos modelos, produção de personagens, level design, ilustrações, trailers etc. Veja no vídeo a seguir o resultado final da apresentação deste projeto da Helm Systems.
3. Qual o conselho que você daria para quem está começando nesta área?
Bom, primeiramente aconselho estudar bastante e produzir um bom portfólio. Ao longo de anos, meu portfólio foi se transformando e melhorando, passando por diversas versões. Portanto, no começo entenda que tudo é valido, como formar parcerias, participar de projetos, enfim, criar um portfólio que demonstre de certa forma todo o seu potencial. Tente sempre mostrar aquilo que é considerado melhor, não somente por você, mas pelas outras pessoas, ou seja, não deixe de colocar seus trabalhos em fóruns especializados na internet, pois estes são a porta de entrada para o mercado. Aja sempre com ética, profissionalismo, seja organizado, faça amizades pela internet ou participando de eventos e palestras. Estude inglês também, principalmente se você quer trabalhar com games, pois a maioria das produtoras são de fora e, portanto, saber falar inglês é fundamental.
4. Qual foi sua maior frustração e também sua maior gratificação nestes últimos anos em que você tem atuado neste mercado de games?
Nossa, frustrações foram várias, rs. Bom, quando alguém chega e me pergunta: Rodrigo, essa área dá dinheiro? Eu já falo para a pessoa que é melhor ela ter um outro emprego….brincadeira, rs, mas é que existem alguns pontos importantes que devemos levar em consideração.
Em primeiro lugar, o 3D tem que ser um hobby, ou seja, você precisa realmente gostar do que faz! Porque falo isso? Porque a especialização em 3D leva tempo, claro, pessoas mais talentosas tem mais facilidade e aprendem muito mais rápido. Mas pense como numa academia de luta, se você treinar uma vez por semana, no primeiro ano você vai ser faixa preta ? Provavelmente não, mas e se você treinar 5 horas todos os dias ? Deu para entender a diferença?
Não é fácil começar ganhando dinheiro, mas quando você tiver sua especialização, daí sim você poderá cobrar pelo seu trabalho, pois só você vai saber o quanto foi difícil chegar naquele nível. A experiência vem com o tempo e se você conseguir se destacar em fóruns internacionais, tudo ficará muito mais fácil.
Uma grande frustração minha foi achar muitas vezes que já estava num nível bom e que na verdade tinha muito ainda que aprender e hoje entendo é a mesma coisa, vamos evoluindo e crescendo a cada dia, sempre tem algo novo a se aprender, sejam técnicas um olhar artístico diferente.
Mas minha grande gratificação é com certeza trabalhar com o que eu gosto de fazer, pois sempre fui apaixonado por games. Ter um personagem completo, funcionando dentro de um jogo e ainda ser premiado por uma das maiores produtoras de games do mundo, não tem preço! Também tem a boa remuneração, que é algo que vem com o tempo. É preciso ficar de olho aberto nas oportunidades. E por falar em oportunidades, recomendo os sites creativeheads.net e gamasutra.com, onde você encontra as maiores produtoras do mundo. E claro, não se esqueça dos fóruns e redes sociais, onde sempre surgem boas oportunidades de trabalho.
5. Poderia nos passar alguma ideia de valores? Quanto custa para produzir um jogo?
Essa pergunta é importante, porque não fazer o nosso próprio game? Hoje isso é possível? Posso responder que hoje tudo está muito, mas muito mais fácil, tanto pelo lado tecnológico que evoluiu bastante durante esses anos e chegou num patamar, digamos que “padrão”, quanto pelo lado das pessoas e o acesso a informações.
Hoje existem muito mais pessoas estudando o assunto e que tem interesse em compartilhar conhecimentos e em produzir algum jogo. Vendo pelo lado tecnológico, a plataforma de games Unreal Enigne é um grande exemplo e hoje é disponibilizada de forma inteiramente gratuita para projetos pessoais. Esta engine é responsável por grandes lançamentos como os games Gears of War, Unreal Tournament, Bioshock, Mass Effect entre outros.
Como estamos falando de custos de produção, não posso deixar de falar do hardware do seu computador para aplicações gráficas. No início do aprendizado não precisamos ter uma super máquina, mas com o passar do tempo vamos perceber que para produzir coisas maiores, realmente precisamos de boas máquinas e claro, elas não custam barato.
Com um equipamento mais robusto e de alta capacidade de processamento, este irá possibilitar ao profissional fazer muitas coisas ao mesmo tempo, como por exemplo meu personagem Prisioner, incluindo uma pequena animação, podendo renderizar uma imagem no 3ds Max, trabalhar no level design dentro da engine, trabalhar com texturas no Photoshop e assistir a um making-of na internet sem problemas de lentidão e travamentos.
Temos também a mão-de-obra especializada, que se você for contratar pessoas, irá encontrar de diversas áreas, como Concept Artist (criação de desenhos), Animador (animador 3d), Enviroment Artist (artista que modela e/ou texturiza objetos e modelos do cenário) e Character Artist (artista que modela e/ou texturiza personagens). Enfim, tudo isso tem um custo, portanto, fazer boas parcerias às vezes é bem mais vantajoso.
Resumindo, o custo para se produzir um jogo irá depender muito também do tipo de jogo que você estará produzindo, por exemplo, um game casual para IPhone, hoje sai muito mais barato do que produzir um game para PC e consoles, onde o custo de produção e concorrência é bem maior.
6. Como é este mercado de games hoje no Brasil e como você enxerga suas oportunidades?
Hoje o Brasil é um dos maiores mercados de games do mundo e a cada ano que passa estamos crescendo, mas quando falamos de mercado de games não podemos deixar de falar dos “serious” games, que são jogos de treinamentos para empresas, escolas etc.
A fixação de conteúdo através desses jogos é bem maior e grandes empresas tem movimentado muito dinheiro neste setor. Também temos os jogos “casuais”, que são jogos feitos não necessariamente só para quem gosta de videogame, mas sim para uma grande parcela da população. Encontramos esses jogos bastante no setor de internet e de aparelhos móveis ou smart phones. Esse foi e é um dos setores que mais crescem aqui no Brasil, principalmente por ter um custo bem baixo de produção.
O grande problema do mercado brasileiro ainda é a falta de incentivo e a alta carga de impostos, pois isso dificulta muito qualquer ação interna de desenvolvimento, porém existem muitas pessoas que possuem parcerias com empresas de fora e que trabalham aqui para o mercado mundial.
Particularmente, acho que o governo deveria facilitar bastante a entrada de empresas estrangeiras no país, pois os artistas brasileiros são muito criativos e estar dentro de uma grande corporação trabalhando em equipe seria algo fundamental para a fomentação e especialização do mercado.
Vale lembrar que o grande mercado consumidor no mundo todo é os EUA, onde os investimentos no segmento são exorbitantes e que movimentam bilhões de dólares todos os anos. Nada mais coerente para um país em desenvolvimento como o Brasil formar parcerias com os EUA, facilitando e trazendo gente especializada, assim como diversos brasileiros que hoje já trabalham nos EUA. A pergunta foi sobre o mercado brasileiro, mas é quase impossível não relacionar nosso mercado com o mercado externo, pois as oportunidades hoje são globalizadas.
7. Você indica algum curso ou especialização para quem quer iniciar na área? Acredita que uma faculdade é essencial?
Na realidade, hoje já temos algumas faculdades com conteúdo focado em games, porém é necessário alguma especialização.
Todo o tipo de informação neste momento é válido, seja um curso presencial ou um curso online, inclusive tutoriais disponíveis gratuitamente na internet.
Eu posso dizer que a faculdade é uma experiência única, pois você irá aprender a trabalhar com prazos e trabalhar em grupos, irá conhecer e interagir com pessoas com o mesmo interesse, ou seja, vai de certa forma se tornar um melhor empreendedor ou artista. Também não podemos nos esquecer dos programadores, pois nesse caso geralmente a faculdade de ciências da computação é um caminho a seguir, mas para ser programador tem que gostar muito de cálculos matemáticos.
Eu me formei em desenho industrial e tive a chance de desenvolver minha criatividade com desenhos de criação, esculturas e muitas outras coisas. Não diria que faculdade seja algo fundamental, pois quando temos força de vontade, conseguimos nossos objetivos e a internet está aí para isso e vale lembrar que sempre temos que nos manter atualizado, principalmente quando trabalhamos com programas de computador.
8. Falando em programas de computador, você indica algum software?
É importante deixar claro que o software é apenas uma ferramenta. Existem muitos softwares hoje em dia que praticamente fazem a mesma coisa, entre eles o 3ds Max, Maya, Softimage, Cinema4D, Lightwave etc.
O diferencial, no entanto, vai estar sempre por trás do software, ou seja, o Artista! Com uma boa base artística, independente do software que você utilizar, você irá chegar a bons resultados.
A atualização de um software para outro às vezes acontece, mas os resultados são sempre praticamente os mesmos, pois a base de arte sempre fala mais alto. Até mesmo para apresentar uma simples esfera, existem diversas maneiras de fazer esta apresentação para um cliente.
Cabe a cada artista ter a capacidade de surpreender e criar algo original independente da ferramenta 3D que está usando.
9. Você teria alguma última consideração ou recomendação?
Tenham sempre paixão pelo que vocês estão fazendo, muito foco e determinação, participem de campeonatos, pensem grande e sejam acima de tudo, amigos. Quando falamos de games, estamos falamos de união e interatividade e uma equipe que desenvolve games precisa ser unida e receber bem outras pessoas ou outras opiniões.
Estamos sempre evoluindo e poder ajudar as pessoas é algo muito gratificante. Não vamos deixar de sonhar com grandes projetos. James Cameron fazia isso há 15 anos atrás e só conseguiu por em prática sua obra Avatar, portanto, vamos evoluindo com o tempo, tudo é gradativo. Gosto sempre de mencionar Ayrton Senna que dizia: “Tenha muita dedicação, perseverança e muito desejo de atingir os seus objetivos, muito desejo de vitória, não somente como profissional, mas vitória na vida.
Mas, independente da posição social ou profissional que você tenha na vida, tenha sempre como meta muita força, determinação e sempre fazendo tudo com muito amor e também com muita fé em Deus, que um dia, de alguma maneira você chega lá!
Eu sempre procurei me inspirar, criar e evoluir meu lado artístico, observando e admirando trabalhos de outros artistas que me ajudaram a persistir e evoluir, entre eles, Pierre Bourgeot, Antropus, Fausto de Martini, Feng Zhu, Tyson Ibele, Hebert Lowis, Ken Kelly, Brom, Frank Frazetta, Boris Vallejo, Julianna Kolakis e Gary Newman.
Espero que você tenha gostado dos meus trabalhos e busque cada vez mais referências e inspirações também com outros artistas.
Para ver a íntegra desta entrevista assim como um making of completo do personagem 3D para games God of Revenge, de Rodrigo Banzato, assim como dicas e ferramentas usadas nesta grande produção, passando pelos mínimos detalhes até sua apresentação final, acesse a revista Tutorial 3D.
Para maiores informações sobre o artista Rodrigo Banzato e seus trabalhos mais recentes, acesse seu portfólio online.
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